sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Montemuro via Sobradinho


Capítulo III
(Montemuro via Sobradinho)
22/08/2012

Como prometido continuo a saga a que me propus e desta vez dedico-me a descrever, uma vez mais na visão do ciclista, uma das subidas mais enigmáticas e desconhecidas...a Subida do Sobradinho em Montemuro.

As comparações com a subida do Monte S. Cristóvão (Capítulo II) são inevitáveis e portanto não queria deixar de as fazer  num espaço de tempo curto para ter uma noção mais aproximada da dureza de cada uma e ser portanto capaz de as comparar com mais certeza.

O percurso escolhido visou ainda uma visita à Espiunca para cumpir uma subida que faltava na cartilha ... Espiunca - Alvarenga e implicou ainda a já conhecida subida da Barragem de Carrapatelo para a outra margem do "meu" Douro.

Assim, no dia 22 de Agosto e apenas dois dias depois do "ataque" ao S. Cristovão cumpri a solo um percurso de aprox. 145km e um desnível acumulado real de aproximadamente D+ 3000.

Resumidamente, saí uma vez mais de Entre-os-Rios com destino a Castelo de Paiva e aí, após descer ao nível do Rio Paiva subir por Travanca e até Vila Viçosa onde após virar à direita desceria de novo até ao nível do Rio para a Espiunca. Aí começaria o primeiro desafio do percurso com a tal subida da Espiunca até Alvarenga num extensão de 6,3km a 4% de inclinação média. De novo na estrada N225, de onde me tinha desviado, segui quase até Castro Daire e virei aí à esquerda para enfrentar a parede do Sobradinho até ao Alto de Montemuro numa extensão de 11km a 8%. Já no topo desligar os motores e cumprir a longa e bela descida de Montemuro até à Barragem de Carrapatelo. Aí chegado, subir para a N108 e daí regressar ao meu ponto de partida. 

Eis o percurso e perfil final



Sem ter a preocupação de detalhar tudo o que é subida vou limitar a descrição às que considero mais relevantes:

Espiunca - Alvarenga 
https://www.strava.com/segments/8833787




Cheguei à base desta subida, logo após a ponte da Espiunca, com aproximadamente 35km nas pernas e portanto com o "o motor" à temperatura ideal. A parte inicial da subida é sem dúvida a mais exigente mas a subida é inconstante, é feita de picos, de altos e baixos o que permite recuperar o pulso e gerir os andamentos. Nunca a tinha feito, mas conhecê-la bem é certamente uma mais valia dado que permitirá outra gestão do esforço e melhor aproveitamento das variações da inclinação. Ainda assim as descidas são sempre bastante curtas e nunca há muito tempo para recuperar o pulso...Sinceramente esperava que fosse mais dura do que se revelou mas ainda assim é uma óptima subida e é também um desafio fazê-la a bom ritmo.

Depois do sobe e desce da N225 e de passar por Parada de Ester o Montemuro esta cada vez mais presente à nossa esquerda...imponente e desafiador. O tempo não estava famoso e tinha mesmo chuviscado um pouco. Quem conhece as serras deste país e costuma pedalar em altitude sabe bem as condições que se podem apanhar la em cima, com ventos fortes, chuva e nevoeiro. Segui o conselho que o amigo Fernando Sousa  me deu no épico treino das 4 Serras (https://www.strava.com/activities/275521907) do Guilherme Pereira ...acima de 1000m de altitude levo sempre corta vento...sempre! Sábias palavras!!!

Sempre na expectativa de quando chegaria o cotovelo à esquerda e o inicio da parede la fui andando até que...

Montemuro via Sobradinho 10,9km a 8%

Para se ter a real noção do que esta subida representa importa decompor as suas diversas fases ou mesmo nos segmentos registados no strava e que dão de facto outra visão.

Ela pode ser uma HC de 11km a 8%  mas pode também ser uma 1.ª Cat. com 6,8km de extensão e percentagem média de 9% se se considerar apenas até à estrada nacional que sobe a Montemuro. Mas pode ainda ser uma 1.ª Cat. de apenas 5,5km e uns estonteantes e exigentes 12% de inclinação média! Olhando assim para ela percebe-se que o inicio é de facto demolidor e requer grande preparação mas principalmente uma capacidade de sofrimento e um querer inabalável.

A HC tem este aspecto...
https://www.strava.com/segments/884829



Se fizer "zoom" ..e vir apenas os...6.8km iniciais...média 9% 
https://www.strava.com/segments/8177131




Mas usando a "lupa" e limitando o perfil para os tais 5,5km a implacável subida atinge 12% de média. http://www.strava.com/segments/2051999



Significa portanto que a sua parte inicial anda muitas vezes acima dos 20% e estabiliza outras tantas acima dos 14% e 15% durante 5,5 dolorosos km´s.

Devo confessar que aquela parte inicial é de facto um tormento impossível de fazer confortavelmente, não há forma de evitar as dores nas pernas e o pulso no "redline"...sem duvida no top3 das coisas mais difíceis que subi de bicicleta. 
Mas a decomposição assim da subida até nos faz esquecer que não são 5,5km são 11km e portanto não sendo tão duros os restantes km´s, estão lá para ser feitos,  e são penosos e exigentes sempre com pendentes que não nos querem deixar respirar e se viermos ainda dos 5 demolidores km´s iniciais é uma luta sem fim. Ia super concentrado na tarefa (que remédio) mas que me tenha dado conta não passei por ninguém, nenhum carro, nenhuma pessoa só eu e a Izalco por ali acima...determinados. A temperatura ambiente manteve-se amigável o que ajudou bastante na "empreitada"...fazer aquilo com calor deve ser simplesmente horrível. 
Geri a subida o melhor que sei reservando alguma energia e uns (poucos) bpm´s para a eventualidade de vir mais umas daquelas rampas ou curvas que me obrigassem a cerrar os dentes e carregar energicamente nos cranks. Chega o cruzamento da estrada que liga Castro Daire a Cinfaes e já perto das Portas de Montemuro a estrada até parece plana... e o frio? e as nuvens? Lá em baixo...abaixo da cota onde já estava. Num dia de inverno e de chuva vi o sol, brilhante e radioso e a memória de peixe do ciclista rapidamente tratou de fazer esquecer as rampas que tinha passado e o quanto tinham custado fazer. De repente a tempestado virou bonança!

Descida rápida e revigorante até ao Rio Douro mas descendo assim, lá me coloquei de novo ao alcance das nuvens e com elas a chuva...ainda que ligeira. 

Barragem de Carrapatelo 2,6km a 6,6%
http://www.strava.com/segments/4478585



Visto daqui parece simples, ainda mais depois da parede do Sobradinho... mas a subida é exigente e dado que tem uma vista livre e ampla à nossa direita vemo-nos efectivamente a ganhar metros de subida, sentimos bem a paisagem e a altitude a aumentar. Claro que as pernas nesta fase já pesam um pouco porque além do violento acumulado, já levam 114km, a Espiunca, o Sobradinho e mais o sobe e desce constante. Mas quem pode o mais pode o menos...e portanto ..... esta é para "meninos".

No topo é hora de desligar o motor e rolar calmamente até à "meta".

Em resumo e para mais tarde comentar com o Pedro Lobo Ribeiro , a subida do Sobradinho é das mais infames que fiz ...ou melhor, os 5,5km de subida mais duros que fiz mas como ela nao se resume a esses 5,5km e se considerar a extensão total da subida comparando com o S. Cristovão este último nos 11km totais é mais dificil...simplesmente porque a parte mais dura vem no fim depois de 6km feitos enquanto aqui, no Sobradinho ele começa insuportável e vai-se tornando progressivamente mais tolerável. Assim, continuo a achar o S. Cristovão A subida.

Para memória futura ficam as "stats" do meu treino que podem ver aqui:

https://www.strava.com/activities/374732157/

Distancia total: 144,7km
D+2945
Tempo - 5:53:19 e não houve tempo para uma única foto :P
Media 24,6km/h
Vel. Max 77,4km/h
Bpm´s médios 143bpms

Abraço e boas pedaladas

Rui Miguel Abrantes
Porto Cycling Team







































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